ONG Mata Ciliar realiza a primeira "barriga de aluguel" em gato do mato. 29/01/13.
Pela primeira vez no mundo, médicos veterinários conseguiram realizar a transferência de embrião em um gato-do-mato, animal ameaçado de extinção.
O procedimento foi feito na ONG Mata Ciliar, em Jundiaí (SP). Para a realização do processo, a ONG recebeu o médico veterinário do zoológico de Cincinnati William Frederich Swanson, que trouxe as técnicas desenvolvidas por ele nos Estados Unidos.
A utilização de “barriga de aluguel”, inédita em felinos, servirá como base para pesquisas sobre a reprodução da espécie. Segundo os cientistas, a partir dos dados observados, será possível a criação de técnicas que permitam a conservação da espécie. “Com a transferência de embriões, minimizamos os problemas do cativeiro, já que, com embriões congelados, menos animais precisam ser mantidos nestas condições”, explica a coordenadora de fauna da ONG, Cristina Harumi Adania. Ela explica que a técnica ainda permite maior variação genética, já que os felinos deixam de se reproduzir entre parentes. Isso traz, entre outros benefícios, uma maior resistência a doenças.
Os embriões que foram utilizados em Tigger, a primeira gata-do-mato a ser uma “barriga de aluguel”, estavam armazenados em um recipiente com nitrogênio líquido e permaneceram congelados por 12 anos. “Em um único botijão, temos 80 embriões de jaguatirica e 40 de gatos-do-mato. Isso mostra quantas variações genéticas distintas a transferência de embriões permite”, analisa William, que já comemora bons resultados de seus estudos no Brasil. “Encontrei aqui pessoas muito entusiasmadas em trabalhar pela conservação das espécies. É justamente isso o que eu procuro: pessoas apaixonadas pelo trabalho com animais.”
O veterinário fica no Brasil por mais algumas semanas, em treinamento com pesquisadores, para que o trabalho não termine quando ele for embora. Priscila Yanai, veterinária e pesquisadora e o professor Marcelo Guimarães, ambos da Universidade de São Paulo (USP), foram até Jundiaí para o treinamento. “O intercâmbio de conhecimento é muito importante para a inovação dos estudos em nossa universidade”, explica Priscila.
O Projeto Mata Ciliar de Jundiaí foi o escolhido para os estudos devido à grande quantidade de animais e por abrigar dois centros de conservação de felinos selvagens. “No Brasil, a Mata Ciliar é o melhor lugar para se fazer o estudo sobre essas espécies”, comenta William.
Conservação dos felinos
Cristina Harumi Adania comenta que, além dos estudos de biotecnologia, a luta contra a extinção de animais como o gato-do-mato pequeno, jaguatirica, gato-mourisco, onça-parda, onça-pintada e gato-maracajá - espécies de felinos selvagens que vivem na região - depende da educação e da proteção de habitats por meio de programas de reflorestamento. “Os felinos são o topo da cadeia alimentar. Quando perdemos um, temos o descontrole da população. Isso pode causar um problema de saúde pública”, comenta o professor Paulo Anselmo Nunes Felipe, diretor do departamento de epidemiologia da Mata Ciliar.
Segundo o professor, todos os pequenos felinos estão ameaçados de extinção.
Experiências anteriores
Os cientistas também tentaram fazer a transferência de embriões na jaguatirica Guria, que, há cinco anos, conseguiu gerar um filhote a partir do mesmo procedimento. Porém, desta vez, organismo da felina de 12 anos não reagiu aos hormônios.
Apesar disso, o resultado da experiência anterior pode ser visto na própria Mata Ciliar. A primeira jaguatirica nascida da “barriga de aluguel” apresenta saúde perfeita. Lua, filha de Guria, é o resultado positivo que estimula os cientistas a prosseguirem com a nova biotecnologia de reprodução.
Já em Tigger, a gato-do-mato fêmea que passou pela transferência de embriões, só será possível analisar o resultado em cerca de 30 dias. "Os embriões aparentaram boas condições, o que nos deixou bastante otimistas", comemora antecipadamente o professor e médico veterinário Paulo.
Para conhecer a Assoiação Mata Ciliar: www.mataciliar.org.br
Fonte: G1