Sacrificar Tubarões para evitar ataques. Medida preventiva correta ou insensatez histérica? 28/nov/2013
Mais uma vez, a notícia “Surfista morre e Austrália cogita sacrificar tubarões com mais de 3 metros”, publicada essa semana no Portal G1, reaviva a discussão em torno dessa questão.
Semelhante ao recente clamor emanado em Recife, a ideia de sacrificar tubarões para evitar ataques é um verdadeiro contrassenso nas ações de conservação dos tubarões. Ainda que haja real envolvimento do tubarão-branco no recente ataque (leia a notícia abaixo), devemos levar em conta que suas populações declinaram quase 90% nos últimos 30 anos e que propor matar tubarões de forma preventiva é uma insensatez histérica com que algumas pessoas persistentemente decidem pautar suas ações e opiniões.
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A morte no fim de semana de um surfista após o ataque de um tubarão-branco em uma praia do sudoeste da Austrália reavivou o pedido para que todos os animais com mais de três metros sejam sacrificados, informou a imprensa local.
O pedido foi feito depois da morte do surfista Chris Boyd, de 35 anos, em uma das praias perto da cidade de Gracetown, após o recente ataque de um tubarão, que é procurado intensamente pelas autoridades do estado da Austrália Ocidental.
A morte de Boyd é a primeira deste ano no estado da Austrália Ocidental, conhecido por ataques fatais de tubarões, e a terceira em uma década no litoral de Gracetown.
O presidente do clube de surfistas da região de Margaret River, Tom Innes, disse que o litoral da Austrália está infestado de tubarões-brancos devido ao status de proteção que têm no país.
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É preciso esclarecer que os ataques de tubarão-branco ao ser humano são considerados eventos acidentais. O tubarão-branco dificilmente ataca o homem, mas, quando isso ocorre, o motivo mais frequente é o erro de identificação visual com sua presa natural. Nas águas frias da Austrália, África do Sul e Estados Unidos, os tubarões-brancos podem confundir os humanos com os pinípedes (leões-marinhos e elefantes-marinhos) que lhes servem de alimento.
A maioria dos tubarões-brancos que ataca o homem tem entre 2,45 e 3,65 metros de comprimento, sendo jovens inexperientes que estão fazendo a transição de sua alimentação. Alimentavam-se basicamente de peixes e após atingir dois ou três metros de tamanho mudam sua dentição e passam a se alimentar dos pinípedes, maiores e bem mais nutritivos. Como estão em um período de aprendizado de novas técnicas de caça, e são naturalmente mais agressivos e afoitos nessa fase, cometem erros de identificação e confundem surfistas ou mergulhadores com esses mamíferos marinhos. Na medida em que se tornam maiores e mais experientes __ nas águas temperadas o tubarão-branco pode atingir até seis ou sete metros __, passam a ser perfeitamente capazes de identificar e selecionar suas presas habituais.
Mergulho com tubarões ao redor do mundo, incluindo o grande tubarão-branco, com o objetivo de mostrar ser possível interagir de forma amistosa com esses seres fantásticos. E um dos objetivos é desmitificar e apagar a errônea imagem de “comedor de homens”, como a que foi imputada na década de 1970 ao tubarão-branco pelo blockbuster Tubarão. O filme passou a distorcida ideia de que o tubarão-branco é um animal perverso e sanguinário que tem o homem como alvo principal. A irreal imagem da vítima humana mastigada pelos enormes dentes triangulares foi tão forte e negativa que os tubarões-brancos ficaram estigmatizados no imaginário coletivo como os assassinos dos mares. E basta que ocorra um ataque para reavivar tudo isso.
Mas pense bem. Atualmente, acontecem no máximo de 70 a 90 ataques de tubarão ao homem por ano no mundo todo. E desses, somente seis, em média, são atribuídos aos grandes brancos. Estatísticas da FAO (órgão das Nações Unidas) estimam que, anualmente, mais de 100 milhões de tubarões sejam capturados e mortos pelo homem em todos os oceanos. Quem são os verdadeiros assassinos dos mares?
Não há mais espaço para se admitir a matança inconsequente de seres vivos na Natureza. E quando se trata dos tubarões, é importante ter em mente que eles exercem um papel crucial na manutenção da saúde e do equilíbrio dos ecossistemas marinhos e sem a presença deles teremos consequências incontroláveis e desastrosas.
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Proteger os tubarões é proteger a vida, é proteger a nós mesmos!
Fonte: Instituto Aqualung - Marcelo Szpilman